Encurralado

Nesta manhã de terça-feira (5) eu passei por uma situação tão absurda que eu fiquei sem reação. Aconteceu que eu estava no ponto de ônibus quando, de repente, surgiu um senhor em minha direção e perguntou:

- E aí, como vai a guerra?
- Tranquila... - Até então eu não havia entendido o porquê desta pergunta.
- Sabia que oitenta por cento dos militares que estão no Iraque "queimam a rosca"?

Quando o desconhecido me disse isso já me bateu aquele constrangimento, até porque eu estava com o meu pai no momento.

- Eu gosto de conversar com jovens que nem você. Porque a situação do Brasil está péssima. Eu sou ex-militar do exército e naquela época não tinha essas coisas. Hoje todo mundo anda por aí queimando a rosca. Isso é falta de uma lição! A democracia só fez ajudar os pobres com umas migalhas, mas falta ordem! O fuzil deveria queimar por uns mais cinquenta anos!
- O senhor quer que a ditadura volte?
- Claro! Só assim pra melhorar o Brasil. O governo entrou para os democratas e arruinou tudo.
- O senhor sabe que muita gente foi morta por causa da ditadura, né?
- Sim, mas foi pra corrigir o povo. A ditadura tem que voltar, nem que seja um pouco. Pelo menos vai acabar com essa gente que fica queimando a rosca!

Depois de ouvir isso eu fiquei tão chocado e com medo de falar alguma coisa contra e ser jogado contra os carros que só fiz ouvir o resto do discurso e concordar com tudo o que o senhor falava. Nunca pensei que eu pudesse escutar algo tão ridículo e me sentir encurralado. Por ele, pelos militares, pela religião, pela família tradicional. 

Em pouco tempo o ônibus chegou. O então senhor foi embora e eu fiquei ali desnorteado, com os olhos marejados e pensando nos homens e mulheres mortos ou desaparecidos na ditadura; pensei no massacre da boate gay em Orlando; pensei no risco que a comunidade LGBT sofre diariamente por simplesmente viver. Mas com certeza eu não irei me esquecer daqueles olhos loucos. Infelizmente.

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